quarta-feira, 13 de junho de 2012


— Que merda de vida, que merda!”
Encaixei os fones no meu ouvido e apenas acenei com a cabeça grosseiramente que “não”, não me importava o que aquele homem estava tentando me oferecer, eu não iria querer mesmo, não quero nada. Mas leia-me certo, não quero nada, mas preciso de tanto, preciso de um mundo novo — e de um sapato também — mas certamente aquele moço não estava me oferecendo um mundo… Ou estava, pensei. Logo corri de encontro ao homem que já estava longe, mas eu ainda podia vê-lo, corri e enquanto corria veio a imagem do moço me entregando um bilhete de loteria que por estar próximo aos meus pés, achou que fosse meu, talvez estivesse premiado, ah meu deus, poderia comprar um mundo e outro mundo só de sapatos pra mim. E outros mil pensamentos típicos de quando bate aquela esperança me veio em mente também, sabe?… E quando finalmente alcancei o moço, com um sorriso nos lábios perguntei: “Moço, o que queria me dizer?” e ele respondeu com a voz fraca, quase sussurrando:”Na verdade queria te pedir, linda moça!”. Ah como eu sou uma boba esperançosa, o moço estava em uma situação pior que a minha, dei um suspiro e meia volta, quando ele segurou no meu braço e disse:”Queria te pedir um mundo, um mundinho…”. Minha nossa, por que caralhos eu quis dar todo o meu mundo para aquele moço? E por que eu quis dar os sapatos também? Eu senti que tinha um mundo, mas dessa vez não pequeno, eu tinha um mundo de sonhos e esperanças, gigantesco, e não me doeria, nem um pouquinho, doar um pouco pro moço que me deu um mundo sem ter um.