sábado, 14 de julho de 2012


“E mais uma vez, eu abri uma página sua de uma rede social e fiquei olhando sua foto. Como eu já sorri olhando praquilo, você não tem idéia. Mas das ultimas vezes, infelizmente não era sorrindoque eu olhava, era com desanimo, com saudade e mágoa misturadas. Porque
você tinha que morrer? Porque você tinha que matar tudo que eu sentia? 
Me obrigar a morrer também. Me obrigar a fingir estar viva pra todo 
mundo. Me obrigar a não chorar, quando tive vontade de chorar. Vontade 
de te esmurrar, te dizer que você é um idiota, um babaca, um cretino, um
fraco, nunca passou disso. Nunca uma piada sua foi engraçada, nunca 
você me surpreendeu. Nunca. Mas eu não consigo deixar de pensar em você,
a cada dia, a cada ato meu. E quando eu procuro outras pessoas, eu 
procuro imaginando você me vendo. E tendo ódio de mim. Porque eu quero 
que sinta ódio. Porque ódio significa alguma coisa, e é melhor que 
indiferença. Você que já foi tudo, já foi minha esperança, foi meu 
futuro imaginado, hoje não é nada. Não passa de uma foto numa rede 
social. Se eu vivo bem sem você, porque eu continuo te olhando? Porque 
eu sempre volto aqui? Porque eu ouço musicas que falam de tristeza? Por 
quê? Você não vale isso. Mas eu faço. Eu continuo fazendo. Como uma 
cerimônia de luto, eu sigo a risca. Mas acontece que você não morreu de 
verdade, do jeito que eu preferia que morresse. Você está ai vivo, 
vivendo sua vida, fazendo suas coisas, feliz, tranqüilo, sem sentir 
minha falta, sem olhar minha foto em rede social. Porque eu não consigo?
Porque você não podia ser alguém? Eu esperei muito de você? Não. Eu não
esperei nada, eu entendi tudo, eu entendia o que ninguém entenderia. Eu
respeitei. Eu fiz como você quis. Tudo. Eu me anulei. Eu deixei de me 
amar, pra todo meu amor ser só seu. Eu voltei atrás. Eu chorei, eu pedi 
desculpas, eu agüentei besteiras. Agüentei tudo. Ajuntando do chão, 
migalhas do seu carinho, migalhas do seu amor. Do seu jeito explosivo e 
calmo. Um dia me amando como se a terra fosse acabar depois da meia 
noite. No outro dia um desconhecido me pedindo pra tratá-lo como 
qualquer um, por favor. Você é meu personagem favorito. O dono de todos 
os meus textos, de todas as minhas histórias. O dono da curvinha das 
minhas costas. E eu tenho que dizer isso agora, só pra uma foto numa 
rede social. Porque você morreu na minha vida. Você pediu demissão, seu 
cargo era o de presidente, era membro honorário do conselho, tinha 
tapete vermelho e eu me vestiria até de secretária se te agradasse. E 
você pediu demissão, sem aviso prévio nem nada. Me diz agora? Como viver
bem? Como sobreviver, sem essa ponta de angustia? Eu sou feliz, cara. 
Eu sou feliz demais. Mas eu sou infeliz demais, quando penso em você. 
Quando penso no que poderia ser, no que poderia ter sido. Eu sei que não
dá. Eu nem quero que dê. Não quero mais. Mas não sei o que fazer com 
esse nó. Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua 
foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. 
Tomara que passe logo. Porque a vontade de te ressuscitar as vezes, me 
domina.”

— Tati Bernardi.